sábado, 14 de março de 2009

Continuando o esquema descrito no post anterior, iniciei outro encontro com o grupo retomando a questão da mudança de comportamento. Pra falar a eles sobre a importância da prontidão para mudança, iniciei explicando sobre cinco estágios:

Estágios de prontidão para a mudança:
Pré-contemplação:
não estar consciente de ter um problema e não ter intenção de mudança.
Contemplação: estar consciente que existe um problema, mas ainda não ter feito nada para mudar.
Preparação: ter a intenção de realizar alguma mudança.
Ação: Concretizar a mudança.
Manutenção: Já ocorreu a mudança, e o paciente está procurando manter o comportamento modificado.

A dificuldade do trabalho em grupo está no seguinte: aqueles nos estágios mais iniciais de mudança (pré-contemplação) beneficiam-se mais da instrução e da compreensão das condutas de risco do que aqueles que já estão cientes dos riscos de seu comportamento e pretendem mudar logo (preparação). Ou os que estão ativamente tentando mudar (ação), beneficiando-se mais de intervenções baseadas no treinamento de habilidades e na auto-eficácia (habilidade de sentir-se capaz).

Antes de continuar a atividade pedi para que cada um identificasse em que estágio se vê.

E emendei ilustrando com a necessidade de mudar um comportamento específico: a impulsividade, e com ele a obsessão e a compulsão, que aumenta a probabilidade de recaída.
Sempre reforço o fato de que ninguém nasce pronto. A vida é um processo de criação. A todo momento estamos nos recriando. Portanto temos que determinar quem queremos ser, e agir de acordo. Se colocarmos na mente que não é possível mudar, certamente não mudaremos. Mas se aos poucos tomarmos consciência e refletirmos sobre nossa maneira de agir, sobre nossas escolhas... se aos poucos conseguirmos pensar antes de falar, antes de agir, gradativamente seremos capazes de equilibrar nosso comportamento, agindo menos na impulsividade e mais na reflexão. Seremos capazes de cada vez mais termos o domínio de nós mesmos, guiando nossa vida ao invés de sermos guiados pelas emoções.

Benefícios da mudança deste comportamento:
Manejo da compulsão e da obsessão.
Reflexão antes da ação = assertividade.
Controle da própria vida.
Não mais ser guiado pelas emoções.

Dificuldade em mudar o comportamento:
Busca de fórmulas mágicas – não quer pagar o preço.
Pensamentos dicotômicos – tudo ou nada.
Pré-conceito.
Má vontade.
Resistência.
Indisciplina.

Depois de ter ouvido a todos, e ter aprofundado nesta questão, busquei enfocar com eles um outro comportamento, mas desta vez, um que precisa ser reforçado: a motivação. Para iniciar a discussão, pedi para eles fizessem a seguinte atividade:

* Em uma escala de 0 à 10, vocês identifiquem o quanto se sentem capaz de parar de usar drogas.
* Agora, listem no mínimo 6 coisas que alguém pode fazer para conseguir evitar o uso de drogas.
* Façam duas colunas: em uma descrevam quais as vantagens de usar drogas (prós), e na outra quais as desvantagens.


Esta atividade abre reflexão sobre o nível de motivação que cada um tem para parar usar drogas. A motivação é algo que flui de dentro pra fora: a própria pessoa alimenta em si. Outra pessoa não é capaz de motivar a mim, eu tenho que buscar algo que me motive, eu preciso dar motivos à minha ação.
Aí entra a palavra decisão: até que ponto há disposição para encontrar esta motivação?
Na adicção ativa, a pessoa perde a capacidade de decidir, de fazer escolhas. Ela simplesmente deixa-se ser guiada por um poder destrutivo. Sabe que está fazendo mal, se destruindo, mas continua usando: Perda da escolha - “tenho que usar”.
Levantei com o grupo as razões pelas quais o dependente químico se deixa levar por um poder destrutivo e ressaltei que para a recuperação, o poder de Decisão é a maior fonte de força e coragem, é onde o medo diminui.
Quando você decide, a decisão implica em ação, você começa a recuperar a sua ação (recuper-ação), a buscar os motivos para isto (motiv-ação), e aos poucos desenvolve as habilidades que precisa para vencer.
Terminei lembrando a eles sobre a primeira proposta do tratamento, e mostrando a amplitude de abordagens que este tratamento carece.

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