quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

“Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”. Freud.

Ontem falei sobre minha monografia com a Gua. Trata-se de um estudo de caso. Falei sobre o paciente, disse que possui traços de oralidade, que não está satisfeito com nada, que se sente vazio, e age como se o mundo devesse algo a ele. De fato ele é assim, mas é um bocado de outras coisas também. E, além disso, vários exemplos eu poderia dar para ilustrar o meu discurso, mas falei justamente este. A frase acima diz justamente isto: quando falamos do outro, existe algo de muito nosso naquilo. Em partes isto é óbvio, mas nem sempre nos damos conta.
A Gua, que não perde a oportunidade, fez-me ver que é em mim que os traços de oralidade estão bem aflorados. Ela queria que eu entendesse isto, e eu entendia, mais do que eu gostaria. Nem sempre a compreensão nos alivia de nossos medos, talvez só os intensifique. A verdade é que me sinto um saco sem fundo, sempre querendo mais. Quando me sinto assim, vem junto uma tendência gritante de me importar com a opinião alheia, me deixando insegura quanto ao meu próprio direcionamento.
Como conta o primeiro post deste blog eu havia parado de fumar. Como conta também, estava ensaiando uma dieta. Tudo desandou. To comendo e fumando que nem uma louca. E além disto, estou pentelhando meu marido como nunca. Fico cobrando elogios e insistindo em falar de sentimentos. Reclamo por ele não fazer exatamente tudo o que eu quero. E olha que ele esforça-se bastante. Exigir que um homem lhe de completa atenção é a melhor forma de fazer com que ele faça exatamente o contrário. E ele não exige muito, é uma criatura bem simples. Para agradá-lo basta deixar que ele assista futebol e filmes de terror, basta que toque violão e escute aquele rock horrível e irritante que ele curte. Ele quer apenas cumprimentos simples, e sexo honesto, comprometido, e de riso. Falo isto porque na relação vivo cobrando que me digam algo, como se a fala do outro pudesse sustentar o que sou.
E pra ajudar estou desempregada. Sinto-me hoje como se tivesse sido mastigada e cuspida um milhão de vezes. A semana se arrasta sem surpresas. Percebi como a maldita adrenalina nos sustenta nas horas difíceis. Só tenho agüentado firme porque a sensação não é de todo ruim para o espírito. Mas também é porque quando a coisa aperta, eu corro de um lado para outro esperando que as experiências sejam boas o suficiente para que eu possa ser saudosista. Mas vou deixar esta correria para outra hora, porque agora, sinceramente, me deu fome.

5 comentários:

  1. Me chamou a atenção o título do post, por óbvio. Nunca havia pensado nessa verdade, mas é um fato, é verdade, quando falamos dos outros, vemos nos outros algo que não vemos em nós. Complicado, né?

    Mas ah, menina, não sinta o peso todo do mundo nas suas costas e nem queira transferí-los aos outros [no caso, ao seu marido... da época que eu te conheci virtualmente, tu num era casada, era? os tempos mudam...]

    Viva leve!

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  2. a primeira vez que ouvi essa frase de Freud foi em um filme, e não com essas mesmas palavras. Fiquei fascinada!

    E gostei muito do seu texto também. É dificil percebermos tais coisas e mais que isso, aceitá-las, deixá-las ser. Difícil também é lidar com naturalidade quando as coisas ñ acontecem da forma que queríamos.
    Se ainda precisar de uns elogios, aí estão os meus :) ótimo texto


    abraço

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  3. Amei seu texto, e até me identifiquei um pouco com ele. Quem não tem um pouco dessa oralidade? Essa falta de sei lá o que que grita dentro de toda a humanidade.
    Carpe Diem!

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  4. Tenho aprendido que não devo fundamentar minhas expectativas em pessoas ou coisas. Devo viver hoje, porque, acredito que é este momento que me é concedido. Que correr atrás do que queremos é preciso, porém, sem a preocupação antecipada, de que vai dá certo ou não. Que havendo mais uma chance continuarei buscando, porém, sem a ansiedade de conseguir. Lutar sempre, desistir, jamais.

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  5. está precisando entrar em contato com seu interno, e parar de se identificar com o externo

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