terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Família.

Este é um tema delicadíssimo para os adictos na sua busca por recuperação. É imprescindível separar vários momentos para falar sobre o assunto, sobre os problemas que cada um enfrenta dentro de sua casa, os conflitos, as identificações...
Se por um lado, os internos estão atrás de ferramentas para lidar com as adversidades, com as situações que colocam em risco a sua abstinência, com os gatilhos que os levam a recaída, por outro lado os familiares continuam em sua rotina, fazendo a mesma coisa e esperando que um milagre aconteça e devolva não apenas a normalidade a estes seres, mais a própria vida que ficou perdida em meio a adicção ativa.
Quando os pacientes receberem alta e voltarem para casa irão se deparar com pessoas ansiosas por mudanças drásticas, e serão cobrados. O intuito desta atividade foi alertar quanto a isto.
Primeiramente fizemos uma lista de sentimentos conseqüentes do uso de drogas, e o prejuízo que a família teve em relação a sentimentos. O grupo foi citando: decepção, desconfiança, desesperança, raiva, frustração, traição, medo, vergonha, ressentimento, angustia, solidão, desespero, carência, saudade, dor, desprezo.

Após esta lista de sentimentos foram ilustradas situações recorrentes. A pergunta foi aberta ao grupo: Em quais situações perceberam haver magoado seus familiares? Neste momento eles relataram situações nas quais atingiram as relações de maneira negativa. O objetivo principal foi o de mostrar a eles que repetidos comportamentos refletem hoje em atitudes de repreensão, de defesa e de ataque. Eles identificaram que os familiares se adaptam a um modelo de relação que alimenta o ciclo doentio estabelecido na adicção ativa, e que isto foi estabelecido progressivamente. A reflexão foi a de que novas atitudes devem ser postas no lugar e que irá levar um tempo para que a família se adapte e sinta-se confortável e confiante novamente.

A questão posterior foi colocada de maneira a mostrar que não basta “ficar limpo”, ou seja, sem drogas, é necessário uma mudança interior. A pergunta dirigida ao grupo foi a seguinte: Você se vê agindo da mesma forma? O que fazer para mudar? Existe uma frase em A.A. (Alcoólicos Anônimos) que diz o seguinte: “O homem que eu era bebia, e o homem que eu era voltará a beber”. Significa que para viver sem drogas, é necessário abrir mão de velhos hábitos, de muitas vontades e se empenhar em uma profunda transformação e apego a princípios éticos e espirituais. A discussão das respostas a esta questão foi em avaliar pontos que estão sendo colocados em prática em função da mudança esperada.

Na seqüência, foi sugerida a seguinte questão: Qual atitude do familiar mais o incomoda? De que maneira a família pode servir de gatilho? A partir das respostas foi colocado que a recuperação é individual, que não temos que gostar de todos a nossa volta, mas que precisamos respeitar as diferenças, as opiniões. Além disso, é sempre ressaltado que não podemos mudar o outro. Só podemos mudar a nós mesmos. Em relação ao gatilho, refere-se a situações de estresse, de conflito, que podem gerar angústia e levar a recaída. Muitas vezes a família serve como gatilho para a recaída, não apenas pelas discussões, cobranças, como também por facilitar a vida do dependente químico, estabelecendo uma dependência emocional e o impedindo de crescer e caminhar com as próprias pernas. Este tema foi trabalhado de maneira profunda.

As questões finais foram: Como cada membro reage ao comportamento dos respectivos familiares? E o que cada um acredita ser possível acontecer a partir da mudança? Neste momento falamos sobre as relações de poder, sobre as relações de parceria, assim como sobre a tolerância e a assertividade. Em relação a mudanças, o que mais foi valorizado pelo grupo, foram estados de espírito como o equilíbrio, a serenidade e a paz. O grupo apresenta-se disposto a encontrar maneiras de melhorar o convívio familiar.

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